Os Infinitos Jogos de Linguagem de Wittgenstein

A meta da ciência deve ser buscar as mais simples explicações                                             para fatos complexos, e… desconfiar delas.”  (A. N. Whitehead) 

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‘Noite. Um silvo no ar…Ninguém na estação. E o trem…Passa sem parar.’  (Guilherme de Almeida “Haicai”)

Ludwig Wittgenstein (18891951) foi um dos filósofos mais influentes do século 20, e principal mentor do movimento virada linguística da filosofia…que colocou a “linguagem” no“epicentro filosófico”, deixando de ser só um meio para nomear coisas…ou difundir pensamentos formais.

No começo do século 20, estudando na Universidade de Manchester‘, Wittgenstein inicia seu interesse por problemas de “fundamentação matemática”estudando “The principles of mathematics” – de Bertrand Russell, e “Grundgesetze der Arithmetik” (“Leis básicas da aritmética”) de Gottlob Frege. No verão de 1911, após um período de correspondência, visita Frege … e este lhe recomenda estudar com Russell na “Universidade de Cambridge”. Em outubro de 1911, no “Trinity College“, Wittgenstein manifesta a Russel, pessoalmente, seu interesse em assistir suas aulas de lógica matemática. Este, pede-lhe então um ‘ensaio filosófico’ durante as férias de fim de ano. – Em janeiro de 1912…após entregar o trabalho solicitado — bastante impressionado  Russell convence seu novo aluno a seguir carreira. A partir daí, inicia-se intensa colaboração entre eles, entorno a questões lógico-filosóficas. 

Em sua trajetória intelectualWittgenstein foi capaz de realizar profunda revisão em sua própria teoriaa tal ponto  que muitos estudiosos de sua obra filosófica a dividem em 2 períodos: o “1º Wittgenstein”…do seuTractatus Logico-Philosophicus’ – publicado em 1921; e o “2º Wittgenstein” (Investigações Filosóficas), postumamente publicado.

Embora se tratem de escolas filosóficas diferentes, a ‘linguagem‘                                        permanece o tema principal de sua reflexão; unificando sua obra.

Tractatus Logico-Philosophicus (1ª fase)                                                                            “A filosofia, em seus primórdios – teve início através de ‘jogos de enigma‘… em torno    do sagrado. Esse era ainda um tempo sem criação sem consciência – e, portanto, um tempo de homens sem culpa” (Felício dos Santos, ‘Razão e Ludismo na Cena Filosófica’)

No  “Tractatus Logico-Philosophicus” Wittgenstein tenta romper com a visão tradicional da filosofia que vê o mundo como um mero agregado de coisas…pensadas independentes umas das outras. Esta visão não é incorreta…mas incapaz de explicar a relação entre elas. Seria então preciso – para que algo adquira significado estar numa relação com outros objetos, num determinado ‘estado de coisas’. Esta é a condição para que um objeto possa aparecer…e assim, ser pensado. Com as palavras acontece o mesmo – elas só adquirem significado, quando inseridas numa ‘frase‘; para assim serem ‘verdadeiras‘ ou ‘falsas‘. 

Não basta, portanto, que exista correspondência entre a palavra e a coisa designada, pois nas frases falsas, também se fala sobre objetos… O que determina a verdade ou falsidade,    é se a conexão entre “palavras na proposição” é igual à conexão entre “objetos no mundo”. Logo…haveria uma identidade entre “estrutura das coisas” e…“estrutura do pensamento”.

Para Wittgenstein a “linguagem” só pode representar a “estrutura do mundo” através de uma correspondência entre mundo… pensamento e linguagem. Ou, de outra forma, entre a ‘figuração‘ do mundo na linguagem  e o próprio mundo… ‘afigurado’. – O que permite que a linguagem possa corresponder ao mundo…é que ambos partilham de uma mesma “forma lógica“, que é a condição de possibilidade da afiguração”. Mas como poderia mostrar que pensamento, linguagem e mundo têm a mesma forma lógica?

O problema é que, para Wittgenstein…essa afirmação não pode ser demonstrada;                é…“algo que apenas se mostra”. Para demonstrar aquilo que se mostra através da linguagem e do mundo…seria preciso uma teoria que se referisse à sua totalidade. Entretanto, isso é impossível… pois quando falamos sobre o mundo já estamos       dentro de uma… “forma lógica… de modo que não nos é permitido vê-la de fora.

“Representar na linguagem algo que contradiga as leis lógicas é tão pouco          provável, quanto representar uma figura que contradiga as leis do espaço”.

A filosofia não tem nada a dizer sobre investigações do “sentido do mundo”, como totalidade, já que a ‘forma lógica’ é a condição possível de toda figuração, mas não        pode ela própria ser afiguradaAo invés de especular sobre ‘totalidade do mundo                e da linguagem’…a filosofia deveria ocupar-se de uma função mais modesta…qual          seja, ajudar a simplificar a linguagem – na criação de “proposições” mais precisas.

Assim, quando se pensar em algo metafísico como ‘ser’…ou ‘essência’, deve-se construir essa proposição com um significado inteligível…pois, segundo Wittgenstein – “O fim da filosofia é a elucidação lógica dos pensamentos; antes turvos e indistintos; tornando-os nítidos e compreensíveis”. Todavia, não deixa de ser curioso…que na exposição de suas teses, o próprio Wittgenstein teve de se valer de proposições gerais da metafísica. – Ele afirmava, por exemplo, quea totalidade das proposições é a linguagem”; “proposição        é uma figuração da realidade”; e… “os limites do mundo … são os da minha linguagem”. 

Ou seja, ele próprio não se limitava ao que se mostra, ao falar sobre as                      ‘coisas’…em sua totalidade. Assim, o seu ‘Tractatus’ seria visto também                                  como uma pretensão de dizer algo metafísico, isto é, um ‘contrassenso’.

http://www.papeldeparede.etc.br/fotos/papel-de-parede_escada-2/

Para resolver esse problema…Wittgenstein usa a genial…’analogia da escada‘… que deve ser jogada fora logo após se subir por ela. A filosofia é essa escada…que ele usou ao descrever a estrutura lógica…do mundo    e da linguagem. Feito isso, sua função está praticamente encerrada…e coerentemente com seu pensamento…Wittgenstein achou melhor cair num silêncio de vários anos, a continuar a dizer mais “contrassensos”.

“Minhas proposições elucidam dessa maneira; quem me entende, acaba por reconhecê-las como ‘contrassensos’…após ter escalado através delas…por elas…para além delas.”

Uma rápida comparação entre sua obra-prima…”Tractatus Logico-Philosophicus”, e sua ‘obra póstuma’“Investigações Filosóficas”, é suficiente para perceber a radicalidade da mudança no pensamento de Wittgenstein. Embora permaneça na mesma temática, qual seja, o ‘problema da linguagem‘…o Wittgenstein das ‘Investigações Filosóficas’ é profundamente crítico de si mesmo, a ponto de abandonar a forma sistemática e precisa do Tractatus, pelo que chamou de: um álbum de anotações – e esboços de paisagens, às vezes…saltando rapidamente de um tema a outro…empregando imagens e metáforas”.

Por outro lado, há certa continuidade em seu trabalho. No ‘Tractatus‘                                ele pretendia romper com a visão tradicional da filosofia…priorizando                                  a função designativa da linguagem…e deixando de lado relações entre                              palavras, e as coisas no mundo.  Já nas ‘Investigações Filosóficas‘,                                aprofunda essa temática…criticando até mesmo, suas próprias ideias.

“Investigações filosóficas”                                                                                                      “Também podemos conceber que todo processo do uso de palavras seja um daqueles jogos por meio dos quais as crianças aprendem a sua língua natal. — A estes jogos quero chamar ‘jogos de linguagem‘… e falarei – por vezes, de uma linguagem primitiva… – como tal”.

Para Wittgenstein…o grande problema na filosofia da linguagem tem sua origem em Platão, que interpretava todas as palavras como ‘nomes próprios’, em que cada nome corresponde a um objeto… – Os nomes comporiam as unidades simples, das quais se formam as afigurações do mundo (sua ‘estrutura lógica‘). Assim…sempre seria possível reduzir as unidades complexas de significação…aos seus elementos mais simples. – Nas ‘Investigações Filosóficas’… Wittgenstein coloca esse modelo em xeque, ao se perguntar quais são as partes simples que compõem a realidade. O que é simples…ou composto, é função do jogo de linguagem que se está jogando…Mas, o que é “jogo de linguagem“?

Formas de vida e jogos de linguagem constituem categorias centrais                              da nova linguagem, contextualizada na práxis comunicativa interpessoal.

comunicWittgenstein não nos dá uma “definição”, pois é justamente com essa simples ideia  de filosofia que tenta romper — a de que,    a cada palavra … corresponde um objeto.

A linguagem não é uma coisa mortaem que cada palavra representa algo, de uma vez por todas. A linguagem…situada na cultura e história… é “atividade humana”.

Os jovens, por exemplo, adoram usar ‘termos diferenciados‘ que correspondem ao seu grupo – mas que, fora dele, poucos entendem… Assim… ‘radical‘ pode ser usado para designar algo que é ‘maneiro‘ ou ‘massae um sujeito ‘legal‘ pode ser considerado ‘sangue bom‘ ou ‘jóia‘…conforme o lugar onde viva. – A ideia de jogos de linguagem rompe com a visão tradicional, de que aprender uma língua – é dar nomes aos objetos.

Imagine que num passeio turístico, você se perde de seu grupo…E, no lugar em que você está… a população só fala o idioma local, que você desconhece… Como você faria para se comunicar?…Talvez tentasse se comunicar primeiro por mímica, ou tentasse desenhar o que queria. Os nativos falariam alguma coisa, na língua deles, e você talvez repetisse, na esperança de estabelecer algum…”laço de comunicação… – Talvez com muita paciência, acabassem se entendendo, e essa história acabaria em um…”final feliz… (Naturalmente,    haveriam bem mais equívocos que acertos…isso porque, mesmo gestos que para nós são banais, como acenar a cabeça, podem significar noutra cultura, coisas muito diferentes.)

Nas Investigações, abandonando a pretensão de cientificidade lógica contida em            seu primeiro trabalho Wittgenstein se utiliza de um “método conceitual” diverso        daquele contido nos “Tractatus”. – A linguagem assim, ao configurar e descrever o        mundo deixa de ser concebida como uma estrutura de nomenclaturas que designa        coisas. A busca de uma ‘essência’ da linguagem é substituída por seu ‘valor de uso’.

É claro que designar objetos é uma parte importante da linguagem, mas esta não se reduz a isso. Por exemplo, a criança ao aprender a falar ainda é incapaz de entender elucidações indicativas (mímica/olhares) – justamente por desconhecer o significado daquela palavra que queremos representar. Portanto, o aprendizado de uma linguagem não pode ser visto apenas como memorizar a designação de objetos isolados…sendo este um ato secundário, em um processo onde a criança também se apropria de certo…”entendimento do mundo”.  Na verdade a criança aprende, junto com a ‘linguagem‘, uma determinada ‘forma de vida’.

Josué Cândido da Silva – professor de filosofia da Universidade Santa Cruz…Ilhéus (BA). Bibliografia: Wittgenstein,”Tractatus Logico-Philosophicus”. Tradução, Luiz Henrique Lopes dos Santos – Edusp… # ‘A figuração do mundo’ # ‘Os infinitos jogos de linguagem’  ***********************************************************************************

filosofia-analc3adticaA lógica da linguagem de Wittgenstein

A lógica é o limite do mundo. – Não podemos pensar nada ilógico…O conjunto de todos “estados de coisas” possíveis forma o ‘espaço lógico da linguagem’. Nada pode ser descrito fora deste espaço lógico. Nele estão contidas todas as possibilidades de existência…e não existência – tudo o que pode ser dito…”com sentido”. 

A análise das ‘Investigações Filosóficas‘ de Wittgenstein – pressupõe um retorno            ao ‘Tratado Lógico-Filosófico‘. Falar destas 2 obras fundamentais, separadas por aproximadamente 20 anos … é falar de 2 fases distintas — pois é nas “Investigações”, inclusiveque Wittgenstein irá refutar algumas das teorias defendidas no “Tratado”.      Nesta primeira fase é defendida uma perspectiva unitária (modelo canônico”)          de linguagem — onde conceitos conclusivos da análise linguística são representados        pela “univocidade” e “unidade formal” sendo o significado das palavras fornecido          por sua referência – a linguagem teria assim…uma “função representativa. Nesta perspectiva, a Lógica tem um duplo papel fundamental. – Por um lado constitui-se          numa ‘linguagem idealizante‘ – confluente das linguagens naturais…e por outro, representa o caminho disponível para alcançarmos uma ‘essência da linguagem.

A 2ª fase de Wittgenstein corresponde a um conjunto de refutações a algumas teorias defendidas pelo autor no Tratado Lógico-Filosófico’. Diz agora Wittgenstein que          o importante na linguagem… não é a sua denotação, mas sim… a forma como a palavra é utilizada“. — Neste novo “argumento” — refutando o ‘isomorfismo‘ da linguagem, abre-se caminho à uma “visão pluralista, pragmática e metafórica“.  Contrariamente ao enunciado no…”Tratado Lógico-Filosófico”… – onde a linguagem refletiria uma “generalização“…de um caráter abstrato e unívoco – inaugura-se aí,    com a 2ª fase, a ideia de que a ‘linguagem‘ carrega consigo um ‘caráter pluralista‘. 

“Tudo que é passível (e possível) de ser enunciado, encontra um ‘referente extralinguístico’…ao qual, cada coisa – em particular…passa a se referir”.

A linguagem assim, é introduzida em formas e práticas de vida; ao mesmo tempo em que se afirma que a “linguagem idealizante” se constitui em apenas uma de suas diferentes formas. Ainda que por vezes pensemos numa…’generalização’, evidencia-se a pluralidade de jogos linguísticos…circunstanciais…ou adaptados aos diferentes contextos implicados.  A imagem segundo a qual nossa linguagem seria como uma “caixa de ferramentasem que vários utensílios desempenhariam funções diversasdenota bem como Wittgenstein defende seu argumento…relativamente à grande diversidade do uso das palavras. Assiste-  se então ao abandono da generalização…em prol da diversificação. E o papel da Lógica’, como supralinguagem‘, hierarquicamente no topo em função às demais, é desconstruído.

“Análise gramatical” (a nova trajetória da linguagem)                                                        Enquanto que – no “Tratado Lógico-Filosófico” – a Lógica é entendida                                duplamente — como a ‘linguagem ideal‘…(que alberga as linguagens                                naturais), e também, como forma de tradução da essência linguística;                            nas “Investigações Filosóficas” ela é substituída pela “Gramática“.                        

A linguagem possui domínios e subdomínios – não é um todo uniforme. Fazer a gramática de seus termos é a tradução mais pragmática, que se segue ao fazer lógica. – Considerando uma mudança no teor da…”análise da linguagem” – passando ela, a estar diretamente relacionada ao uso concreto, particularizante…e não mais em termos unívocos idealizados, sua trajetória se preocupa agora… em estudar as regras do uso, e costumes de seus termos.

Com o argumento da linguagem enquanto uso…e, por consequência, a                          defesa de diferentes ‘jogos de linguagem‘… – a “lógica” é transportada,                          de um lugar primordial (representação), a uma parte dos muitos desses                          “jogos”, obtendo assim o direito de pertencer a um… “todo” (gramática)                          como uma…entre outras formas possíveis de se estudar a…”linguagem”.  

Anulada a função única da linguagem, focalizada na representação…tarefa principal da Lógica…a Gramática tem como nova função, ir atrás dos vários usos da linguagem. Para isso se utiliza de uma…”investigação gramatical” – por meio de certas analogias entre ‘formas de expressão‘…Afasta-se assim, uma possível incompreensão pelo uso da palavra em outros domínios da linguagem – substituindo uma forma de expressão por outra…em um processo denominado ‘análise da forma de expressão’. — Associado a esse papel gramatical, encontra-se para Wittgenstein, a tarefa terapêutico da Filosofia de apontar os ‘problemas linguísticos‘, os quais se consideram a base dos ‘problemas filosóficos‘.

Refutando uma linguagem privada  A ideia de que pode haver ‘algo’ como uma linguagem privada, resulta no pressuposto tácito, de uma função essencial da palavra: a de nomear itens da realidade…formando frases para descrever estados do mundo.

Uma das mudanças que também pode ser verificada na passagem do “Tratadopara as ‘Investigações Filosóficas’ é justamente  a refutação de uma linguagem privada, ou seja a ideia da possibilidade de uma “linguagem solipsista” válida… com o advento de uma teoria dos jogos de linguagem, acaba finalmente por desaparecer. A defesa de uma ‘inacessibilidade de linguagem’ torna-  se assim inviável, pois seguir regras acarreta uma prática…e esta práxis gera o significado.

Wittgenstein rejeita assim o ‘solipsismo‘, uma vez que todas expressões psicológicas,    em primeira pessoa…não parecem exprimir conteúdo cognitivo, colocando em causa o ‘privilégio epistêmico do sujeito’…pois é ilegítimo supor…em uma teoria linguística do pensar…um ‘Eu absoluto‘… – que possa se conhecer ‘a priori‘…de um modo perfeito. 

Jaime Soares (Professor de Filosofia, Psicologia e Sociologia)                                                Licenciado pela “Faculdade de Letras”, Portugal. (texto base)    **********************************************************

A Linguagem e seus ‘limites’                                                                                            “Na passagem do ‘paradigma da consciência’ da Filosofia Moderna … a partir de Descartes… ao ‘paradigma da linguagem’ – esta não só representa a ferramenta                de uma comunicação, como é o campo onde, numa perspectiva estruturalista, se              definem sujeito…subjetividade – e o inconsciente…que antes de um fato psíquico,                é uma (hiper) realidade linguística”. (G. Iannini – “Da Revolução à Subversão”)

Wittgenstein é um pensador ‘incontornável‘ do século XX. Em vida, editou apenas 1 obra, “Tratado Lógico-Filosófico”… com umas escassas dezenas de páginas, mas o bastante para produzir uma “revolução” na filosofia. — Numa primeira leitura desse livro, pode-se dizer que pretenda acabar com a ética… a filosofia… a religião… e…tudo aquilo que está desprovido de sentido… Numa leitura mais atenta…porém, vemos um pensador tentando preservar o…”mistério da vida“… e o que as palavras se revelam…incapazes de descrever.

Sua filosofia se divide em 2 grandes períodos:

I – Período anterior a 1929, correspondente ao ‘Tratado Lógico-Filosófico… com enorme influência (sem fazer parte) sobre o “Círculo de Viena“, e o neopositivismo;

II – Período posterior a 1930, correspondente às ‘Investigações Filosóficas, com grande influência sobre a “filosofia analítica“, e as escolas de Cambridge, e Oxford.

limites

I) Tratado Lógico-Filosófico

Wittgenstein…Bertrand Russell, e…outros filósofos de sua época, estavam convencidos que — boa parte dos problemas da filosofia se devia ao ‘uso imperfeito‘… da ‘linguagem corrente’ levando geralmente a muita confusão.

Era preciso portanto… que se estabelecessem certos limites ao uso da linguagem, assinalando assim aquilo que fizesse sentido de se dizer…bem como o que já não          havia sentido em se afirmar Dessa maneira os temas seriam os seguintes:

a) A função da linguagem é descrever a realidade.                                                      (porque, a rigor… nada pode ser dado fora da linguagem) 

Os limites da minha linguagem significam os limites do mundo.

b) A estrutura lógica da linguagem. (A Lógica, que determina a                                      estrutura da linguagem… – é um espelho … cuja imagem é o mundo)

A lógica não é uma doutrina… A Lógica é transcendental.”  

c) Existe uma isomorfismo entre a linguagem e realidade.                                         Estudando os elementos que compõem a linguagem lógica perfeita…sabemos quais são aqueles que compõem a realidade, e vice-versa. – A linguagem é o que se reflete na sua natureza. Por este motivo, a realidade só pode ser compreendida através da linguagem; sendo que o processo do… “conhecer” – se dá através de sua…”análise gramatical“.  

d) A linguagem com sentido é um conjunto de proposições que descrevem, ou figuram, um estado de coisas possível. O sentido vem do fato de descreverem algo na realidade, susceptível de verificação…ideia incorporada pelo “Círculo de Viena”.

e) A linguagem é a totalidade das proposições.‘Proposição’ é a linguagem expressa em sons, constituindo uma figura da realidade — um modelo de uma situação possível. A proposição…expressão de um pensamento, tem algo em comum com o que é descrito: sua  forma lógica… A cada elemento da proposição corresponde um objeto da realidade.

Sendo o “enunciado” uma ‘figura’ correta da realidade… se alguma                                        coisa ocorre na proposição – algo deve ocorrer também no mundo.

f) Pensamento e linguagem são uma mesma coisa.

g) O pensamento é constituído de ‘proposições complexas,                                       ligando… entre… si… –  ‘nomes‘… (signos simples dos objetos).

h) Limites da linguagem – dizer e mostrar‘… Não é possível “representar” as semelhanças existentes entre um retrato, e o objeto retratado; também não é possível expressar a forma lógica comum à linguagem e realidade. Esta, se mostra…não se diz.

i) As expressões que não descrevem nenhum estado de coisas possível              não têm sentido…pois não figuram nada. Entre este tipo de expressões sem sentido        isto é, que nada descrevem que aconteça na realidade…encontram-se as expressões filosóficas sobre a natureza das coisas…os valores…o sentido da vida…etc… Tratam-          se de expressões que transcendem o mundo; e sendo assim… – carecem de sentido.

j) A filosofia nada pode dizer acerca do mundo, pois não é uma ciência.

k) A filosofia é uma atividade de análise da linguagem…                                                que nos pode ajudar a distinguir, o que se pode… – ou não dizer.                                                A grande tarefa da filosofia consiste em clarificar o pensamento.   

O ‘Tratado assume, portanto, uma concepção universal do Homem…desprezando não apenas a história, mas também as diferentes culturas. – A linguagem e o pensamento a que se refere são comuns a todos os homens – independente da sua origem… ou cultura. Assim, a ‘realidade’ – tendo apenas um único significado… é universalmente partilhada por todos. – Porém, a partir de 1929…Wittgenstein abandona esta ‘matriz universal’ da linguagem — fazendo-a mais e mais dependente do “meio cultural”…a que está inserida.

II) Filosofia analítica (“lógica formal”)

filosofia analítica.Filosofia analítica‘ é uma vertente do ‘pensamento contemporâneo’ – cuja prática se caracteriza…pela valorização da clareza e precisão argumentativa na análise do significado de uma “linguagem”. Nela, a prioridade é analisar as proposições, e argumentos essenciais dos textos, a fim de avaliar seu poder de persuasão — apartado do contexto ‘sócio-histórico’.

Tem suas raízes no início do século XX com o “positivismo lógico“, e em filósofos como Bertrand Russell; Gottlob Frege (fundador da lógica moderna)…e Ludwig Wittgenstein. Muitos aspectos destes primeiros tempos da filosofia analítica foram abandonados…ou rejeitados ao longo do tempo…mas se tornaram relevantes para o seu desenvolvimento. Entre estes, encontramos o princípio “positivista lógico“, pelo qual o objeto da filosofia      é o esclarecimento lógico do pensamento pela análise (gramatical) de suas proposições.

De acordo com Russell, a filosofia analítica tem mais qualidades de ciência do que da própria filosofia produzida anteriormente, uma vez que… diferente do que aconteceu    com os empiristas britânicos…como John Locke, George Berkeley e David Hume…na filosofia analítica chega-se a resultados definitivos…incorporando-se a matemática, e poderosas técnicas lógicas. Isto acontece porque, na filosofia analítica…os problemas        são ‘atacados’, um de cada vez, provando, ou refutando hipóteses… sobre os variados aspectos específicos, tanto do mundo da “linguagem“, como da “mente humana“.

Embora recusando muitos dos elementos iniciais oriundos do ‘positivismo lógico, a “filosofia analítica” atual desenvolveu-se em um estilo de filosofia muito semelhante          ao apresentado por Russell, caracterizando-se pela busca da precisão, clareza e rigor acerca de tópicos específicos…Além do que, a filosofia analítica conta hoje com uma “lógica modal” no tratamento de assuntos correlatos como…”necessidade”…”acaso” e…”probabilidade”…interligados em um mesmo…”campo de pesquisa”. (texto base******************************************************************************

A linguagem humana possui papel fundamental na descrição do conhecimento das coisas que nos rodeiam…ou não. – Ela manifesta da melhor forma o “pensamento abstrato” que elaboramos para conhecer o mundo – através do mito, da arte, da ciência e sobretudo, da filosofia, quepara Wittgenstein “é uma luta contra os mal-entendidos originados de um  uso imperfeito da linguagem cotidiana”…Filosofar…para ele: “é querer compreender algo que já está aberto diante de nossos olhos”. O que implica numa “investigação gramatical”, para o modo de usar nossa linguagem cotidiana e suas expressões coloquiais. (texto base) ***********************************************************************************

O “atomismo lógico estrutural” na linguagem analítica de Wittgenstein            “Um signo não é um meio de representação, mas de comunicação”. (Werner Stegmaier)

tractatusMuito se tem escrito nos últimos anos – sobre a vida e a obra de Wittgenstein. Todavia, é difícil enquadrar seu pensamento na história da filosofia…em parte, devido à sua posterior ‘iconoclastia’, mas também…por reflexões, que à luz da história…podem parecer ‘provincianas’…ou mesmo, desprovidas de qualquer importância filosófica.

A princípio, lhe pareceu possível criar uma…”teoria de estrutura da linguagem“…que mostrasse – de modo preciso, o que podia e o que não podia ser dito. E era de      se supor, que…entre as coisas que não podiam ser ditas; aquela mais facilmente reconhecível fosse a ‘metafísica’.

O ‘atomismo lógico’, 1ª teoria desse tipo, foi sumariamente expresso por Wittgenstein em seu “Tractatus LogicoPhilosophicus” (1921). De acordo com eletudo que pode ser pensado, também pode ser dito“. Assim, os limites da linguagem são os mesmos  limites do pensamento, de modo queuma ‘filosofia do que pode ser dito’, será uma “teoria completa”…a partir do que Kant denominou…”entendimento“. Sendo que nela:  “Todos problemas metafísicos decorrem da tentativa de se dizer, o que não pode ser dito.”

Wittgenstein dividiu todas as sentenças em…’complexas‘ e ‘atômicas… afirmando que, as primeiras eram construídas a partir das segundas mediante regras de formação; sendo ‘sentenças atômicas aquelas que empregam os “primitivos da linguagem“, isto é, nomes e predicados elementares que, indefiníveisservem para distinguir ou descrever aquilo que Wittgenstein chamou de “fatos atômicos“…Só uma proposição completa pode ser verdadeira ou falsa, e portanto nos dizer algo sobre o mundo. Seu constituinte básico…’fato atômico’, corresponde a uma ‘sentença atômica’, e o mundo é a soma desses fatos. Fatos complexos correspondem às proposições complexas…e para compreendê-los, é necessário que compreendamos a complexidade da linguagem usada, para expressá-los.

Geralmente…muitas coisas a que nos referimos…são construções lógicas (ou ficções).  As sentenças que as descrevem são abreviações daquelas mais complexas – provenientes de fatos mais básicos e totalmente diversos…onde essas construções lógicas não ocorrem.  Assim, o Tractatus proporcionou todo um sistema de argumentação filosófica; no que se refere… – a que fatos são atômicos…e quais não o são. – Ele pretendia enunciar a estrutura lógica do mundo, sem se preocupar com seu conteúdo real. Desse modo, a lógica ocupa-se apenas da transformação sistemática dos ‘valores de verdade’ no qual, uma linguagem lógica deve ser transparente a esses valores, para que possa assim tornar perceptível toda esse…”processo”, em termos de transformação da verdade em falsidade.

A “teoria figurativa” do significado

A noção ‘verofuncional’ confere exatidão        e força – à alegação de Wittgenstein…de    uma distinção entre sentenças atômicas,        e não-atômicas. Ela é capaz de dizer não apenas qual é a distinção… mas — como poderíamos ser capazes… de entendê-la. 

Para uma linguagem verofuncional não é difícil mostrar como a apreensão de ‘sentenças atômicas’ leva à compreensão de todos complexos infinitosque podem ser construídos    a partir delas. Isto porque as condições de verdade de uma sentença complexa formada de maneira verofuncional podem ser, de imediato, extraídas das “condições-de-verdade”  de suas partes. Assimdestas partes compreenderemos o Todo. Wittgenstein é também capaz de proporcionar uma nova distinção entre…necessário e contingente … analítico e sintético … a priori e a posteriori… que se reduzem à de previsibilidade ou aleatoriedade.

Com efeitopara ele, essa ‘teoria da verdade necessária’ tem consequência no fato das “verdades necessárias” serem vazias…”nada dizem, porque nada excluem“… (são compatíveis com todo “estado de coisas“). O mundo é descrito pela totalidade das proposições atômicasas quais são verdadeiras – mas, por serem atômicas, poderiam        ser falsas…já que nada em sua estrutura define seu “valor-verdade”… O “espaço lógico”  define a possibilidade da existência dos fatos onde “sentenças atômicas verdadeiras” dizem o que é real, e “tautologias” refletem propriedades, desse mesmo ‘espaço lógico’. Entretanto, essa avaliação da linguagem – suscita profundos…’problemas metafísicos’.  Inicialmente, há o problema da relação entre sentenças e fatos atômicos. Wittgenstein chama essa relação de…”figuração” – e tal metáfora tem enganado a muitos dos que tentam comentá-la, já que a relação não poderia ser descrita…apenas mostrada. – Sua concepção era de que se deveria mostrar o que é mais básico, para poder daí, começar    sua descrição. Talvez a melhor forma de entender essa teoria figurativa do significadoseja: negar que possamos usar a linguagem, para nos situarmos entre ela e o mundo“.

Não podemos avaliar, com palavras, a relação entre um fato atômico e uma proposição atômica, a não ser usando a proposição cuja verdade estamos tentando explicar. Isto é, não podemos pensar no…”fato atômico” – sem pensarmos na sentença…que o “figura”.    Sendo assim… portanto… – “Os limites do pensamento… são os limites da linguagem”.

O ‘Tractatus‘ possui um pouco do fascínio de uma doutrina que luta para descrever limites do inteligível, somente para,  ao fazê-lo … ser compelida a transcendê-los(Crítica de Kant). Mesmo que Wittgenstein nunca tenha admitido uma semelhança de pensamento…torna-se comum a comparação entre os dois filósofos supondo-se até que a argumentação  em Investigações Filosóficas poderia ser considerada como complemento da Dedução Transcendentalde Kant.

A distinção entre conhecimentos analíticos e conhecimentos sintéticos atrela-se ao campo da lógica e teoria do conhecimento. As proposições assim também são classificadas, isto é, podem ser analíticas ou sintéticas: ‘analíticas’ são as que o próprio significado é suficiente à determinação de seu valor de verdade, podendo ser demonstradas conclusivamente – já proposições ‘sintéticas’ não tem seus significados suficientes para determinar seu valor de verdade o que exige a verificação dos seus conteúdos, através da… “experimentação”. 

No “Tractatus” a metafísica do atomismo lógico é exposta quase que sem referência a qualquer teoria específica do conhecimento. Desse modo…sua filosofia dá um passo na direção do positivismo lógico, pelo qual todas doutrinas…’metafísicas’, ‘teológicas’ e ‘éticas’ são sem sentido não devido a algum defeito do pensamento lógico‘…mas por não poderem ser verificadas. O slogan do ‘positivismo’: ‘O significado de uma sentença      é seu método de verificação’…é extraído do ‘Tractatus‘ – assim como grande parte do aparato mediante o qual se buscou livrar o mundo de “entidades metafísicas”… não em termos de uma teoria do significado…mas por uma teoria analítica da linguagem.

O “legado kantiano”                                                                                                                Os problemas metafísicos que Kant, Hegel e Schopenhauer tentaram em vão              resolver…são reescritos como – dificuldades na interpretação da consciência”.              

A filosofia posterior de Wittgenstein desenvolve-se a partir de uma reação à anterior,        ou à determinada interpretação dela…quando Wittgenstein renuncia, totalmente, ao “atomismo”, e seus resultados. – A seguir… apresentaremos um esboço de doutrinas expressas em ‘Investigações filosóficas’ (1953) e ‘Observações sobre fundamentos da Matemática’ (1956), ambas…obras póstumas. Em virtude do fato de se relacionarem diretamente com a ‘história da filosofia‘, tais doutrinas indicarão, até que ponto sua filosofia póstuma tem influenciado/modificado a “tradição investigativa cartesiana”.

Suas investigações sobre a natureza da linguagem…têm início assim,                            aceitando a tese do ‘caráter público do sentido’, que já levara Gottlob                                      Frege a rejeitar tradicionais teorias empiristas do significado, numa                            revolucionária natureza da linguagem dada pela ‘filosofia da mente‘.

A ‘perspectiva social’…com efeito, levou Wittgenstein a se afastar da ênfase no conceito da verdade, ou a considerar que tal ênfase reflete uma exigência maior – a de que a ‘escolha humana’ acabe causando um “padrão de correçãoTal padrão é um…”artefato humano”,  produtor de ‘práticas linguísticas’. Contudo, isso não quer dizer que um indivíduo possa decidir… por si mesmo – o que é certo, e o que  é errado na arte da comunicação.

Ao contrário…o constrangimento da publicidade está intimamente vinculado à concepção que fazemos de nós mesmos – seres independentes, que observam o mundo…e nele agem.  Se nos opomos a verdades que nos parecem necessárias…tal se dá… apenas porque fomos nós que criamos as regras que as fazem assim…Esse tipo de reflexão levou Wittgenstein a uma forma muito sofisticada denominalismo“… onde… os fatos últimos da linguagem;  são formas que se desenvolvem… a partir da própria linguagem – a tornando possível.”

Wittgenstein usa vários argumentos destinados a mostrar o que essa premissa realmente significa, e ao fazê-lo, tenta demonstrar sua insustentabilidade. Esses argumentos, então reunidos…proporcionam… o que pode ser descrito como uma “figuração” da ‘consciência humana’… – Tal figuração…possui alguns aspectos metafísicos, outros… epistemológicos.  Ela envolve a rejeição da ‘busca cartesiana da certeza‘ no aniquilamento da concepção de que “eventos mentais” são episódios privados, que só podem ser observados pela própria pessoa – e na recusa de todas as tentativas de compreender a “mente humana” selvagem,    isolada das… “práticas sociais” – por meio das quais ela poderia encontrar sua expressão.

A ênfase da filosofia posterior de Wittgenstein é, decididamente, ‘antropocêntrica‘.  Embora ainda centrada em questões de significado e limites do significante…seu ponto      de partida se desviou…de abstrações de um ideal lógico, para aspectos da comunicação,  em que o “elemento humano”…não seguiu a usual via “epistemológica“…mas tomou    um rumo totalmente ‘surpreendente’… Wittgenstein o introduz…a priori…por meio de reflexões sobre a natureza da mente humana, a um comportamento social, que confere à essa mente, sua estrutura característica… O que é dado, não são os “dados sensoriais” dos positivistas, mas sim… – as “formas de vida“… da “antropologia kantiana.

O argumento da ‘linguagem privada’  “Há um ‘privilégio peculiar’ envolvido no ‘saber’… de nossas próprias experiências”.

O ‘famoso argumento’ desenvolvido por Wittgenstein da linguagem privada, é objeto de recorrência das ‘Investigações Filosóficas’ … — sendo assim resumido:  

Eu posso ter mais certeza de meus estados mentais do que dos seus – porque os meus estados mentais, eu observo ‘diretamente’.

Isso é o que chamamos…‘teoria cartesiana do espírito’. Em certo sentido é absurdo sugerir que poderíamos estar equivocado a esse respeito; porém Wittgenstein alega que, tanto a teoria, quanto o que ela quer explicar…são ilusões – e sua prova… é por absurdo:

Suponhamos que a teoria fosse verdadeira…Wittgenstein afirma então, que não poderíamos nos referir a nossas sensações por meio de palavras inteligíveis numa ‘linguagem pública… pois palavras só adquirem sentido publicamente…ao serem associadas a condições acessíveis…que assegurem sua aplicação. – Tais condições determinarão… — não somente seu “sentido“… — mas também… sua “referência”.

Wittgenstein alega que, a suposição de que essa referência seja privada, no sentido de, a princípio, só poder ser observada pela própria pessoa, é incompatível com a hipótese de que o ‘sentido é público‘. Por conseguinte…se os eventos mentais são como Descartes os descreve, nenhuma palavra, em linguagem pública, poderia, realmente, referir-se a eles.  Assim…Wittgenstein opõe-se à possibilidade de tal linguagem privada, tentando provar que não pode haver diferença – para quem fala essa ‘linguagem‘ – entre como as coisas lhe parecem, e como elas são; e a falta dessa distinção seria perder a ideia de ‘referência objetiva’. Ademais, nos referimos a sensações, que não são eventos mentais cartesianos.

De fato, conheço meus próprios estados mentais sem observar meu comportamento, mas isso não se deve ao fato de estar observando algo mais. É apenas uma ilusão…suscitada pela “autoconsciência”… sobre “alguma coisa” … da qual só o ‘eu’ … possui conhecimento.

O mundo, como… “significado

Apesar de ter rejeitado o “método fenomenológico”…Wittgenstein      manifestou grande simpatia… para        pensadores como Wilhelm Dilthey,                cujas ideias … percebiam o mundo,                    sob o aspecto do seu…significado‘.

Como alguns fenomenologistas…tais como Merleau-Ponty e SartreWittgenstein argumentou que – percebemos e entendemos o comportamento humano de maneira diferente da qual percebemos e compreendemos o mundo natural. Isto é, explicamos o comportamento humano apresentando razões, e não causasCaminhamos em direção    ao nosso futuro…tomando decisões, e não fazendo predições. Compreendemos a “saga”      da humanidade, por objetivos, emoções e atividades, e não mediante teorias preditivas.  Ele defende assim, não só a posição de que o conhecimento de nossas próprias mentes, pressupõe o conhecimento da mente de outros, mas também…como disse Max Scheler:      “a convicção que temos da existência mental dos outros é anterior e mais profunda que nossa crença na própria existência da natureza”. Quer dizer que, mesmo tendo atacado      o método e a metafísica fenomenológicaWittgenstein compartilha com ela, o sentido atávico de que há um mistério nas…”coisas humanas, impossível de ser revelado pela investigação científica. Tal enigma só se dissipa na atenta descrição filosófica dos fatos.

A diferença, para Wittgenstein, reside no detalhe de que não é o conteúdo da experiência imediata que nos é dado…mas sim…”formas de vida”… que bancam a experiência. Assim, não poderíamos iniciar as…”investigações“…a partir da ‘1ª pessoa’ – incorporando um paradigma de certeza. — Mesmo não existindo uma distinção…entre ser e parecer, quando contemplo minhas próprias sensações – isso se dá, porque falo uma linguagem pública…que determina essa propriedade peculiar do conhecimento da primeira pessoa.  De fato, habito um mundo objetivo em que as coisas são, ou podem ser diferentes do que parecem. Assim, de forma surpreendente, o argumento da “Dedução Transcendental” de Kant acaba fundamentado. – A precondição do autoconhecimento…é, afinal de contas, o conhecimento do mundo além de mim… – o mundo dos outros…e o mundo objetivo que os contém – porque tenho em comum com eles… — a “forma de vida”… — e a “natureza”.

P.S. Muita coisa mudou na filosofia… desde que Wittgenstein produziu seus argumentos,  e muita coisa não mudou — Entretanto, de uma coisa podemos ter certeza. A suposição “ABSOLUTA” na existência da primeira pessoa que proporcionou um  ponto de partida para a investigação filosófica e levou ao racionalismo de Descartes…e, ao empirismo de Hume – bem como à grande parte da epistemologia e metafísica modernas – foi, enfim deslocada do centro da filosofia. (Roger Scruton/UFSC) consulta: “Ideias em Movimento”  “O problema da expressão linguística numa experiência mística” (Gustavo Romero/2021) *******************************(texto complementar)********************************

“Filosofia da Linguagem” (John Searle)                                                                              A “Filosofia Analítica” ganhou força como vertente filosófica contemporânea assumindo a tese de que a lógica de Frege e Russel poderia resolver os principais problemas filosóficos.

A ‘Filosofia da Linguagem’, uma das ramificações da ‘Filosofia Analítica’, considera que a Filosofia não pode mais prosseguir sem considerar os “fenômenos linguísticos”. Voltados basicamente para a investigação da linguagem…Bertrand Russel, Gottlob Frege e Ludwig Wittgenstein, são considerados os primeiros filósofos analíticos. – Outros filósofos foram igualmente importantes para a Filosofia da Linguagem, entre eles Edward MooreRudolf Carnap e Willard Quine, mas a presença do filósofo John Searle tem por objetivo, revelar    a importância da Filosofia da Linguagem nos dia de hoje; sua relação com a Filosofia da Mente, e sua abordagem analítica sobre temas polêmicos, como a “Inteligência Artificial“.

John Searle é um filósofo americano da tradição analítica…notabilizado por enfatizar as relações entre ‘Filosofia da Linguagem’ e ‘Filosofia da Mente’, apontando esta integração, como indissociável. – Um dos pontos levantados por ele é que a ‘Filosofia da Linguagem’, segundo alguns filósofos, considera que os problemas filosóficos poderiam ser resolvidos apenas pelo esclarecimento da lógica, e do significado das palavras. – Discordando desta perspectiva, Searle acredita que esse ponto de vista por demais lógico desconsidera que a linguagem é também resultado de características biológicas da mente. E… sendo assim, para ele, qualquer estudo acerca da “linguagem”…deve considerar a forma como a mente processa a realidade. – Isso, porém, não significa abandonar o “estilo analítico”, mas sim, passar a considerar novos elementos – afinal…é inequívoco que… “o rigor na clareza e na elucidação lógica de questões filosóficas é um dos maiores legados da Filosofia Analítica”.

John Searle recebeu forte influência de Frege, graças ao estilo objetivo, contudo, pretende ir além, acrescentando problemas, ignorados desde então. De acordo com Searle, entre os problemas que a Filosofia da Linguagem deve considerar estão os problemas da…”relação mente-corpo“, da “consciência“, da “intencionalidade“, e da forma como nos expressamos, naquilo que Searle denominou: “atos da fala”. – Ele também se destacou apontando erros em concepções científicas, sobretudo Inteligência Artificial, mostrando num experimento mental porque máquinas nunca serão capazes de “pensar humanamente”. Tal argumento, elaborado por Searle, ficou conhecido como Sala Chinesa.  Alfredo Carneiro (texto base**********************************************************************************

Da “filosofia da consciência”ao “giro linguístico”                                                     “O giro linguístico foi uma mudança radical através de seu questionamento sobre se a linguagem cotidiana é suficiente para explicar o mundo e a vida real” (Lupicinio Iñiguez)

Vivemos atualmente, um momento em que linguagem e discurso são recursos vastamente utilizados nas investigações das ciências humanas e sociais. Porém, nem sempre foi assim. Segundo Tomás Ibañez Garcia desde o movimento filosófico inaugurado por Descartes, as principais discussões da ciência acerca das questões psicológicas, focavam-se em modelos introspectivos…Partindo do pressuposto “penso, logo existo”… a ciência se convenceu que para conhecer o ‘mundo externo’…devia-se perscrutar detalhadamente o ‘mundo interior’, ou seja, a razão era suficiente para explicar a realidade. Consolidava-se assim, no domínio da ciência, a tão conhecida dicotomia corpo/alma proposta por Platão…numa “filosofia da consciência”…que – por mais de 2 séculos – foi o principal palco dos…’debates científicos’.

giro-linguistico

Contudo, determinados efeitos metodológicos e epistemológicos, influenciaram diversos questionamentos acerca de sua hegemonia. A primeira grande ruptura foi decorrente do desenvolvimento dalinguística estrutural‘ de Ferdinand de Saussure – pai da linguística moderna. – Seu impacto foi tão grande na ciência em geral, que estimulou inclusive – na década de 50…o surgimento de seu próprio ‘movimento estruturalista’. Como próprio da ciência…não demorou muito para que surgissem críticas ‘antiestruturalistas’… Chomsky, criador da ‘linguística gerativa’, a propósito, foi um dos opositores do… “estruturalismo”. Suas críticas, sem embargo, estimularam ainda mais o interesse nos estudos linguísticos.

A segunda poderosa mudança de paradigma frente ao cartesianismo…teve início com a elaboração da ‘teoria da quantificação’ (base da lógica moderna) proposta por G. Frege. Seus estudos propunham a troca dos conceitos aristotélicos de sujeito e predicado; por conceitos de argumento e função. Nesta vertente são incluídos grandes filósofos, como Wittgenstein e Bertrand Russell … além dos “positivistas lógicos” do “Círculo de Viena”.  Tais rupturas provocaram drásticas alterações no modo de conceber, e praticar o saber.    Em primeiro lugar evocou o deslocamento do estudo das ideias de ordem introspectiva      e privada…pelo estudo da linguagem de ordem objetivada e pública. Em segundo lugar, promoveu uma troca na concepção de que não mais são ideias, que captam os objetos      da realidade – mas sim…que é a própria “linguagem“…que pacientemente, os constrói.

A partir do momento em que a linguagem, de passiva, se transforma em ativa, ela não          apenas representa: ela faz. A constatação da ciência como ‘construção social’, então se        dá por um fenômeno denominadogiro linguístico. — Com uma “centralização” da linguagem nos processos sociais passando a ganhar bem mais importância, houve um desenvolvimento de perspectivas construcionistas bastante estimulado tanto nas ‘ciências humanas’…quanto nas ‘ciências sociais’. Jeferson Taborda/2009 (texto base)

Sobre Cesar Pinheiro

Em 1968, estudando no colégio estadual Amaro Cavalcanti, RJ, participei de uma passeata "circular" no Largo do Machado - sendo por isso amigavelmente convidado a me retirar ao final do ano, reprovado em todas as matérias - a identificação não foi difícil, por ser o único manifestante com uma bota de gesso (pouco dias antes, havia quebrado o pé uma quadra de futebol do Aterro). Daí, concluí o ginásio e científico no colégio Zaccaria (Catete), época em que me interessei pelas coisas do céu, nas muitas viagens de férias ao interior de Friburgo/RJ (onde só se chegava de jeep). Muito influenciado por meu tio (astrônomo/filósofo amador) entrei em 1973 na Astronomia da UFRJ, onde fiquei até 1979, completando todo currículo, sem contudo obter sucesso no projeto de graduação. Com a corda no pescoço, sem emprego ou estágio, me vi pressionado a uma mudança radical, e o primeiro concurso que me apareceu (Receita Federal) é o caminho protocolar que venho seguindo desde então.
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Uma resposta para Os Infinitos Jogos de Linguagem de Wittgenstein

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